O PASSADO, PASSOU...
Entre memórias, desafios e descobertas, o tempo nos ensina a viver.
Um dia
desses, ao rever algumas fotos de 10 anos atrás, me peguei pensando: parece que
foi ontem. O tempo passou num piscar de olhos. Quase não percebi sua passagem,
mas meu corpo, ah, esse sentiu. Agora estou aqui, prestes a entrar na casa dos
70 anos. E pensar que, se tudo correr bem — e vai, com fé! — Daqui a 10 anos
serei uma idosa “máster”. Rs...rs
Minha
mente ainda é jovem, cheia de ideias e vontades, mas o corpo nem sempre
acompanha. Às vezes, é como se ele não ouvisse. Ainda assim, manter o pensamento
jovem já é um grande passo para não me entregar.
A
juventude é maravilhosa, com toda aquela sensação de ter a vida inteira pela
frente. Tudo parece mais colorido, repleto de aventuras, passeios, viagens e
sonhos que mal cabem no coração. Hoje, quando me olho no espelho ou revisito
fotos antigas – algumas nem tão antigas assim, de apenas dez anos atrás –,
percebo que a juventude já não me pertence da mesma forma. E confesso: ainda me
surpreendo quando alguém me chama de “Dona” ou me oferece um lugar na fila
preferencial.
Esses
pequenos gestos, embora bem-intencionados, às vezes trazem uma pontinha de
tristeza. O tempo, sei bem, já não é tão generoso quanto antes.
Recentemente,
acompanhei minha mãe à clínica e, enquanto esperava, observei os outros idosos ao
redor. Alguns precisavam de apoio para caminhar, outros já não reconheciam nem
a si mesmos. E lá estava minha mãe, enfrentando suas próprias limitações, com
dificuldades de locomoção e visão.
Não pude evitar um aperto no peito. É doloroso perceber como o tempo passa rápido, quase como se nos escapasse por entre os dedos. A velhice, tantas vezes, parece desleal, impondo desafios implacáveis e nos deixando diante da fragilidade da vida.
Mas também há exemplos inspiradores. Pensei em pessoas como Ney Matogrosso e outros que, mesmo aos 80 ou mais, esbanjam vitalidade. Isso me dá esperança. Viver bem é desafiador, mas necessário. O tempo nos transforma e, com ele, muda a forma como enxergamos o mundo. Ser sincera comigo mesma, mesmo quando dói, é um ato de coragem. É nessas dores que crescemos e nos entendemos melhor.
Lembro bem quando completei 50 anos. Foi um marco, uma crise existencial. Achei que o tempo havia passado rápido demais e que o futuro seria difícil. Hoje, quase 20 anos depois, graças a Deus, estou bem. Mas sinto novamente aquela sensação: outra crise existencial batendo à porta.
Agora, porém, enxergo tudo de forma diferente, mesmo que difícil estou aprendendo a respeitar minhas rugas, as marcas do tempo e os anos vividos. Cada linha no rosto carrega memórias; cada marca é prova de uma vida cheia de histórias.
Tudo que sinto faz parte de um processo natural. A vida é movimento, mudança. Preciso seguir em frente, acolhendo essas transformações. Afinal, cada novo dia é uma chance de aprender algo novo, de sentir algo diferente.
E sabe o que é curioso? Apesar de tudo, sinto-me muito viva. Sentimentos antigos, guardados em algum canto, ressurgiram. É como redescobrir partes de mim mesma. Ainda estou aprendendo a lidar com isso, mas acredito que faz parte dessa caminhada chamada vida.
Ninguém disse que seria fácil. Vivemos em um mundo de desafios, e muitas vezes não compreendemos o porquê de certas situações. Fazemos perguntas, buscamos respostas, mas elas nem sempre vêm. São tantas dúvidas, e às vezes me sinto perdida, incapaz de entender o motivo de tudo isso. Não encontro as repostas.
Ainda
assim, tenho muito mais motivos para agradecer do que para me lamentar. Tenho
um trabalho, saúde, uma família amorosa, amigos queridos e a capacidade de
conciliar o trabalho, os cuidados com a casa e o cuidado com minha mãe."
Outro
dia, perguntei a um amigo: “Você é feliz? ” Ele respondeu com firmeza: “Sim, é claro!
” Naquele
momento, eu disse que não. Meu emocional não estava bom, e minha resposta foi
guiada pela tristeza. Mas, ao refletir depois, percebi que a felicidade é
composta por momentos. Há dias em que nos sentimos felizes; em outros, nem
tanto. E está tudo bem assim."
A velhice
pode ser desafiadora, mas quantos não têm o privilégio de chegar até aqui? O
que me resta é tentar viver bem, mesmo sabendo que nem sempre é simples, pois muitas
coisas fogem ao nosso controle. Ainda assim prometo me esforçar.
Mudei
muito ao longo do tempo. Hoje sou mais honesta comigo mesma, mesmo quando isso
dói. Aquilo que me incomodava tanto no passado, agora parece menor, o que
julgava errado ontem, talvez já não pareça tão grave hoje
Estou
aprendendo a aceitar o envelhecimento, que não é fácil, reconhecer que o tempo
passa é o primeiro passo para vivê-lo com serenidade.
Envelhecer
é um privilégio que nem todos têm. Cada ruga, cada experiência, carrega a
história da minha vida. Sempre fui muito ativa, mas, por um tempo, deixei de
cuidar do corpo por causa de uma enxaqueca crônica. Agora, com a saúde melhor,
estou pronta para retomar esse cuidado — sem esquecer do emocional.
“A velhice é uma fase para colher os frutos de uma vida bem vivida, mas
também para plantar novos sonhos e experiências. Com aceitação, cuidado e
amor-próprio, é possível viver essa etapa com plenitude, gratidão e alegria. ”
Reflexão
sobre o tempo.
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Sueli Alves é formada
em Psicologia e Pós-Graduada em Gestão de Pessoas. Com quase 40 anos de
vivência na área de Recursos Humanos, Recrutamento, Seleção e Treinamento,
atuou em empresas de diversos portes e segmentos. Foi coordenadora do grupo UNIRH
- União de Recursos Humanos, por vinte e quatro anos. É Diretora Administrativa/Financeira
da AGERH.