AGERH - O Tempo que Mora em Nós...

O Tempo que Mora em Nós...

11, Jun. 2025

Uma reflexão sensível sobre a brevidade da vida, nossas heranças invisíveis e o valor de viver com presença e gratidão.

 



Sabe aquele momento em que, de repente, você para e começa a refletir sobre a vida?

 

Quando perdemos amigos e o silêncio nos faz pensar…

Um dia estamos rindo juntos, dividindo histórias, planos e no outro, somos obrigados a continuar sem aquelas presenças que se tornaram parte de quem somos.

 

E então, surge o pensamento inevitável: um dia somos alguém, com voz, com nome, com afeto.... No outro, apenas ausência. Depois, uma lembrança... uma saudade... e, com o tempo, talvez nem isso.


Deixamos de existir como matéria. Restamos apenas na memória dos que ficam, por um tempo.


Somos o que tocamos, o que inspiramos, o que deixamos nos outros.

 

E mais: já não possuímos nada. Nossa casa, nosso carro, nossas roupas... tudo aquilo que um dia chamamos de “nosso” já não nos pertence. Deixamos de ter, deixamos de ser.

Sinistro, né? Me peguei pensando na vida... no presente, no passado e no futuro.

 

E comecei a pensar nos meus antepassados, e olhando para trás veio as perguntas: Quem foram eles? De onde vieram? Como viviam? Que lutas enfrentaram?  O que comiam? O que pensavam? No que acreditavam?

 

Muitos passaram por guerras, fome, perdas... e a maioria hoje é pouco lembrada, e muitos nem sabemos quem foram. São pessoas que viveram em diferentes épocas. E mesmo que nunca saibamos seus nomes e rostos eles carregaram o peso de seus tempos para que o nosso pudesse existir.

 

Fico imaginando o que eles pensavam do futuro. Acredito que tinham muito esperança de um mundo melhor, que chegaria um dia de paz,

 

Eu mesma sei pouco sobre os meus familiares. O que sei veio das histórias da minha avó materna. Ela contava que sua família veio da Itália, fugindo das guerras e da pobreza. Vieram como imigrantes: os pais dela, irmãos e uma avó, que seria minha tataravó.

 

Tive o privilégio de conhecer meus dois avôs, minhas duas avós e ainda uma bisavó materna.

 

Em uma pesquisa, descobri que, teoricamente, cada pessoa tem:
2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós, 64 pentavós, 128 hexavós, 256 heptavós, 512 octavós, 1.024 eneavós, 2.048 decavós, 4.096 hendecavós, 8.192 dodecavós, 16.384 tridecavós, 32.768 tetradecavós, 65.536 pentadecavós, 131.072 hexadecavós, 262.144 heptadecavós, 524.288...

 

É gente demais, não é?

 

Para que eu esteja aqui hoje, todos esses viveram. Uma linhagem de mais de 300 anos. Uma mistura imensa de pessoas, histórias, culturas e sobrenomes que, com o tempo, foram se perdendo.

 

Minha irmã começou a montar nossa árvore genealógica, e entre os sobrenomes esquecidos do lado materno da nossa avó e avô, apareceram alguns que nem imaginávamos: Tonim, Zoccolam, Bergamo, Colavitti, Romero, Ganasco...e teve muitos outros.

 

Descobrimos que uma das nossas tataravós, Tereza Zoccolam, nasceu em 1840, há 185 anos!

 

E então me surgiu uma pergunta: quando minha bisavó veio para o Brasil, será que deixou irmãos? Sobrinhos? Será que parte da família permaneceu na Itália?

 

Eu deveria ter feito essas perguntas na época. Mas eu tinha apenas 13 anos quando minha bisavó faleceu. É uma pena não ter tido essa curiosidade mais cedo.

 

Minha avó também tinha muitas histórias, apesar de analfabeta, tinha uma sabedoria impressionante e uma memória invejável. Lembro que, às vezes, ela nos pedia para contar quantos netos tinha e dizer a idade de cada um. Tinha primos que eu nem conhecia pessoalmente, mas sabia o nome e a data de aniversário de todos.

 

Carregamos em nós os passos de quem veio antes.
Pessoas que talvez nunca tenhamos visto, mas que estão em fotos antigas, amareladas pelo tempo.

 

Foram elas que abriram caminhos, às vezes com amor, outras vezes com dor.

 

E porque escrevi tudo isso?

 

Para falar do presente, pois tudo passa muito rápido, é um piscar de olho. Quando vemos já se passaram anos e o tempo que temos aqui na terra é muito curto. Você pode estar com 50, 60, 70,80... 100 anos...e sempre vai achar que tudo passou muito rápido. A única certeza da vida, embora relutemos em aceitá-la, é que um dia partiremos.

 

Por isso, não vale a pena guardar mágoas, adiar sonhos ou sufocar sentimentos. Durante muito tempo, expressar o que eu sentia era bem difícil. Não era fácil colocar em palavras o que se passava dentro de mim. Hoje, aprendi a falar mais com o coração. Nem sempre o outro corresponde…, mas, nesse caso, “a questão já não é mais minha, é do outro”. (Ouvi o Divaldo Franco falar isso)

 

Procuro ser sincera em tudo que faço ou falo, isso não significa sair por aí dizendo tudo o que penso. É preciso ter sensibilidade e discernimento para que nossas palavras não machuquem ou magoem os outros.

 

Por mais que desejemos ser verdadeiros, o respeito deve sempre vir junto com a sinceridade.

 

Cada dia é uma oportunidade única de viver com mais leveza. Aproveitar a vida não é correr o tempo todo, mas sim perceber o valor dos pequenos momentos, dos sorrisos sinceros, “ quando esticamos um pouco mais o sorriso, os problemas encolhem”, agradecer ao acordar, valorizar as pequenas alegrias do cotidiano, agradecer mais pelo que se tem do que reclamar pelo que falta. O simples ato de pentear o cabelo, tomar banho, escovar os dentes, andar, comer, falar, enxergar, ouvir... já é uma bênção.

 

Hoje tenho o exemplo da minha mãe. Aquilo que era simples ontem, hoje é mais complicado. O trocar de roupa as vezes precisa de ajuda, caminha com mais dificuldade. Ainda assim, vejo ela agradecer por cada pequena coisa que faz. Isto me ensina todos os dias sobre resiliência, amor e gratidão.

 

Aprendi a agradecer há alguns anos, numa visita a um mosteiro em Ibiraçu, no Espírito Santo.

 

Na época, confesso que achei estranho ver os monges agradecendo por tudo, até por ir ao banheiro ou tomar banho.

 

Mas hoje consigo entender, o que é simples para nós pode ser um verdadeiro milagre para alguém.

 

E reconhecer isso muda a forma como enxergamos a vida.

 

Às vezes, ou muitas vezes, o que a gente diz ou escreve é algo que, no fundo, nós mesmos precisamos ouvir. Nem sempre é um recado para os outros; é um lembrete para dentro.

 

Como esses, que vivo repetindo, mas ainda estou aprendendo a colocar em prática:

 

- Resgate o que te faz bem: Lembre-se daquilo que um dia te fazia feliz e, por algum motivo, ficou pelo caminho: cantar, tocar um instrumento, viajar, desenhar, bordar, escrever... Coisas simples que, aos poucos, a gente vai deixando de lado sem nem perceber.

 

- E mais: arrisque-se: Ria até doer o estômago, dance, mesmo sem saber dançar, faça poses nas fotos, não leve tudo a sério.

- Aprenda a fazer algo novo.

A idade não importa, aprender é sempre um convite para sair do piloto automático e se reconectar com a vida. Pode ser algo simples: cozinhar uma nova receita, bordar, cuidar de plantas, caminhar, exercícios físicos, faça novos amigos, participe de grupos de ginastica, e outros, ou até se aventurar em uma nova tecnologia.

 

Eu, particularmente, me sinto bem quando aprendo algo novo.
No começo, tudo pode parecer difícil, mas, a alegria de conquistar, mesmo que aos poucos compensa.
Cada pequeno progresso é um lembrete de que estamos vivos, em movimento, e sempre capazes de recomeçar.

 

E contemplar? Vi uma propaganda da VIVO convidando as pessoas a contemplar, um gesto simples, mas que muitos já não praticam.

 

Dias atrás, passando por uma praça por onde ando há anos, do nada olhei para cima e me encantei com uma árvore enorme que sempre esteve ali. Como nunca a tinha notado antes? Aquela árvore me fez refletir sobre o quanto estamos distraídos, vivendo no automático, sem realmente enxergar o que nos cerca.

 

No fim das contas, o que realmente importa não é quanto tempo tivemos,
mas o quanto conseguimos vivê-lo de verdade.

 

E aí fica a pergunta: O que faz você se sentir vivo? O que você gosta, de verdade? Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Quando foi a última vez que você realmente contemplou algo ao seu redor?

 

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Sueli Alves é formada em Psicologia e Pós-Graduada em Gestão de Pessoas. Com quase 40 anos de vivência na área de Recursos Humanos, Recrutamento, Seleção e Treinamento, atuou em empresas de diversos portes e segmentos. Foi coordenadora do grupo UNIRH - União de Recursos Humanos, por vinte e quatro anos. É Diretora Administrativa/Financeira da AGERH.


 

 

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